Guia do Testamento: Herança, Transferências e Direitos dos Herdeiros

22/03/2024 | Por: Advogada Camilla Tays

A sucessão hereditária é um tema intrincado no âmbito do direito, repleto de nuances e implicações legais que afetam diretamente a vida e o patrimônio das pessoas. Ao considerar questões relacionadas à herança, herdeiros necessários e transferência de bens, é fundamental compreender as regras que regem esses processos e as implicações de cada decisão tomada.

Neste artigo, mergulharemos no labirinto dessas questões sucessórias, abordando tópicos como a influência da presença de herdeiros necessários nas decisões sobre a venda de bens, a ordem legal dos herdeiros em processos de sucessão, e as estratégias para a transferência de herança entre familiares, com destaque para a passagem de parte da herança para irmãos.

Nossa intenção é proporcionar uma visão ampla dessas complexidades sucessórias, fornecendo orientações práticas e esclarecendo as principais dúvidas que frequentemente surgem nesse contexto. No entanto, é crucial lembrar que as circunstâncias individuais podem variar consideravelmente.

Sumário:

  1. 1. Quem tem herdeiros necessários pode vender todos os bens?
  2. 2. Qual é a ordem dos herdeiros?
  3. 3. Como passar minha parte da herança para meu irmão?
  4. 4. Quem tem o nome sujo não pode receber herança?
  5. 5. É possível fazer transferência de herança para outra pessoa?
  6. 6. Quem cuida dos pais têm direito à maior parte da herança?
  1. 1. Quem tem herdeiros necessários pode vender todos os bens?

Quando alguém possui herdeiros necessários, como cônjuge, filhos, descendentes, ou ascendentes, a venda de todos os bens durante a vida do titular da herança pode ser limitada. A legislação estabelece que uma parte dos bens, denominada "parte indisponível", deve ser reservada obrigatoriamente para esses herdeiros. No Brasil, essa "parte indisponível" corresponde a 50% dos bens.

Isso significa que, embora o titular da herança possa vender alguns de seus bens, ele não pode dispor livremente de toda a sua propriedade, especialmente se isso prejudicar os direitos dos herdeiros necessários. Portanto, a venda de bens em tal situação deve ser feita com cuidado e consideração das regras legais relacionadas aos herdeiros necessários.

  1. 2. Qual é a ordem dos herdeiros?

A ordem dos herdeiros na sucessão legítima, de acordo com as regras estabelecidas no Código Civil brasileiro, é a seguinte:

• Cônjuge ou Companheiro(a): O cônjuge ou companheiro(a) sobrevivente do falecido tem direito a uma parte da herança, seja em concorrência com os descendentes ou ascendentes, dependendo da situação.

• Descendentes (Filhos, Netos, etc.): Se houver descendentes diretos, como filhos ou netos, eles têm direito à herança. Eles herdam em concorrência com o cônjuge ou companheiro(a), se houver.

• Ascendentes (Pais, Avós, etc.): Se não houver descendentes, os ascendentes diretos, como pais ou avós, têm direito à herança.

• Colaterais (Irmãos, Sobrinhos, etc.): Se não existirem cônjuge, descendentes ou ascendentes, a herança pode ser destinada a parentes colaterais, como irmãos ou sobrinhos, dependendo do grau de parentesco.

É importante notar que a sucessão legítima segue uma ordem de preferência, ou seja, herdeiros de uma classe só herdarão se não houver herdeiros na classe anterior. Além disso, as regras de sucessão podem variar dependendo de circunstâncias específicas, como a existência de testamento, adoção, entre outras.

  1. 3. Como passar minha parte da herança para meu irmão?

Para passar a sua parte da herança para o seu irmão, você pode considerar as seguintes etapas:

• Inventário e Partilha: Primeiramente, é necessário realizar o inventário dos bens deixados pelo falecido. Isso envolve a listagem, avaliação e documentação de todos os ativos e passivos da herança. Em seguida, ocorre a partilha, que é a distribuição dos bens entre os herdeiros de acordo com a lei.

• Aceitação da Herança: Você e seu irmão devem aceitar formalmente a herança. Isso pode ser feito por meio de um termo de aceitação de herança, que deve ser elaborado e assinado de acordo com as regras legais.

• Partilha da Herança: Uma vez que a herança seja aceita, a próxima etapa é a partilha. Neste momento, você pode negociar com seu irmão a divisão dos bens de forma amigável. Isso pode envolver a atribuição de bens específicos a cada um de vocês ou a venda de ativos e a divisão do valor obtido.

• Escritura Pública: Para formalizar a partilha e a transferência de propriedade, é necessária a elaboração de uma escritura pública de partilha. Esse documento deve ser elaborado por um tabelião de notas e registrado em cartório.

• Impostos e Custos: Lembre-se de considerar os impostos e custos associados à partilha de bens, como o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) ou o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), dependendo do tipo de propriedade envolvida.

• Assistência Jurídica: É altamente recomendável contar com a assistência de um advogado especializado em direito sucessório para orientar e auxiliar em todo o processo. Um advogado pode garantir que todos os procedimentos legais sejam seguidos corretamente.

• Respeitar a Parte Indisponível: Lembre-se de que, se o falecido tinha herdeiros necessários, como cônjuge ou filhos, uma parte da herança (parte indisponível) deve ser reservada para eles por lei. Portanto, é importante respeitar essa porção da herança ao fazer a partilha com seu irmão.

É fundamental que todas essas etapas sejam conduzidas de acordo com as leis e regulamentos locais, uma vez que as regras de sucessão e herança podem variar dependendo da jurisdição e das circunstâncias específicas.

  1. 4. Quem tem o nome sujo não pode receber herança?

Ter o nome sujo, ou seja, estar com dívidas em atraso e com o CPF inscrito em órgãos de proteção ao crédito, não impede alguém de receber uma herança. A herança é um direito legal que não está diretamente relacionado ao status de crédito de uma pessoa.

No entanto, é importante observar que, se o herdeiro estiver endividado, os credores podem tentar cobrar as dívidas usando os ativos herdados. Isso significa que parte da herança pode ser usada para quitar as dívidas pendentes do herdeiro antes de qualquer distribuição entre os beneficiários. A ordem de pagamento das dívidas geralmente segue regras estabelecidas pela lei, priorizando dívidas alimentares, trabalhistas e fiscais.

É fundamental buscar aconselhamento jurídico em situações envolvendo dívidas e heranças para entender como as leis específicas se aplicam ao caso e como os credores podem afetar a distribuição da herança. Cada situação pode ser única.

  1. 5. É possível fazer transferência de herança para outra pessoa?

A transferência de herança para outra pessoa é possível, mas deve ser feita de acordo com os procedimentos legais estabelecidos pela legislação do país em questão. Existem várias maneiras de realizar essa transferência:

• Cessão de Direitos Hereditários: O herdeiro pode ceder seus direitos hereditários a outra pessoa por meio de um contrato de cessão de direitos hereditários. Esse contrato deve ser registrado em cartório para que a transferência seja legalmente reconhecida.

• Doação de Bens: O herdeiro pode optar por doar os bens herdados para outra pessoa. Nesse caso, é necessário seguir as regras e procedimentos aplicáveis às doações, incluindo o registro em cartório.

• Testamento: O testador pode nomear um beneficiário específico em seu testamento para receber parte ou a totalidade de seus bens. Nesse caso, a transferência ocorrerá após a morte do testador, de acordo com as disposições testamentárias.

• Venda dos Bens: Os bens herdados podem ser vendidos pelo herdeiro, e o dinheiro obtido com a venda pode ser transferido para outra pessoa. No entanto, essa venda deve ser realizada de acordo com as leis de venda de propriedades e, se houver herdeiros necessários, é importante respeitar a parte indisponível da herança.

• Inventário e Partilha: Em um processo de inventário, os bens da herança são avaliados e distribuídos entre os herdeiros de acordo com a lei. Se um herdeiro decidir transferir sua parte da herança para outra pessoa, isso pode ser feito durante o processo de partilha, desde que todos os herdeiros estejam de acordo.

  1. 6. Quem cuida dos pais têm direito de maior parte da herança?

No Brasil, o Código Civil estabelece que os herdeiros necessários têm direito a uma parte mínima da herança, independentemente de suas ações ou cuidados prestados aos pais. Os herdeiros necessários são o cônjuge ou companheiro(a), os descendentes (filhos, netos, etc.) e os ascendentes (pais, avós, etc.).

O Código Civil define que o autor da herança só pode dispor livremente da metade de seus bens por meio do testamento, sendo que a outra metade, chamada de "parte indisponível", deve ser destinada obrigatoriamente aos herdeiros necessários.

Portanto, mesmo que alguém tenha cuidado dos pais na velhice ou tenha prestado assistência, a legislação estabelece que todos os herdeiros necessários têm direito à sua parte da herança, e essa distribuição é feita de acordo com as regras legais.

É importante mencionar que, se os pais desejarem recompensar um filho por cuidados especiais ou assistência, eles podem fazê-lo por meio de doações em vida ou de disposições testamentárias específicas, desde que respeitem a parte indisponível da herança.

Conclusão:

A sucessão hereditária é um campo complexo, no qual as decisões podem ter um impacto duradouro na vida e no patrimônio das pessoas. Ao navegar por esse labirinto de questões sucessórias, é crucial buscar orientação legal especializada e compreender plenamente as implicações legais de cada passo.

A busca por equidade, conformidade legal e respeito aos direitos de todos os envolvidos deve ser o guia nesse processo, visando a construção de soluções justas e responsáveis para as questões de herança e sucessão.

FAQ’s Perguntas Frequentes

Quem paga o IPTU em caso de herança?

O pagamento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) após a herança geralmente é de responsabilidade dos herdeiros, pois eles se tornam os novos proprietários dos imóveis. Os custos relacionados à propriedade, incluindo o IPTU, são normalmente transferidos para os herdeiros após o processo de inventário e partilha.

Quando o filho perde o direito à herança?

No Brasil, em geral, o filho não perde o direito à herança, a menos que haja uma situação específica que justifique a exclusão, como a deserdização prevista em lei. A deserdização ocorre quando os pais excluem um filho da herança por meio de um testamento, seguindo regras rigorosas estabelecidas no Código Civil. A exclusão deve ser fundamentada em uma das razões legalmente aceitáveis, como agressão física, injúria grave ou desamparo dos pais. Fora dessas circunstâncias específicas, os filhos têm direito à herança legalmente assegurado.

Tem como deixar um filho fora do testamento?

Sim, é possível deixar um filho fora do testamento por meio da deserdização, seguindo as regras estritas estabelecidas pelo Código Civil brasileiro.

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